- gritar assusta os anjos.
- telefonar a alguém e, de medo ao escutar-lhe a voz, desligar na sua cara. assim são minhas relações. Um anacoreta tingido de sociabilidade.
- gosto de me contradizer até a demência. não é uma mania, mas uma fatalidade.
- não consigo me interessar por alguém a quem não pese nenhuma fatalidade. (minha paixão pelos Habsburgo).
- o medo de ser surpreendido pela desgraça. a artimanha imbecil de antecipá-la: fazendo-a, ao chegar, encontrar-me recostado sobre ela mesma.
- a necessidad cosmogônica da misoginia. pandora em hesíodo, eva no gênesis. a mulher explica o mal. depois viria a ingenuidade da teodicéia.
- o grande segredo de tudo: sentir-se o centro do mundo. e é exatamente isso que faz todo mundo.
- racine pedindo para ser enterrado em port-royal como “admirador estéril” dos solitários. bonita expressão, como “entusiasmo de eunuco”.
- salvo Villon e, talvez, Rimbaud, os poetas franceses são funcionários do verso.
- primeira condição para uma sociedade perfeita: poder matar quem se detesta.
- “Fulano acaba de ser golpeado por um êxito do qual não se recuperará nunca!” <——– o fracasso é superestimado, o sucesso sub-.
- as enfermidades existem para recordarmos que nosso contrato com a vida pode ser rescindido a qualquer momento.
- o universo onde deus existisse fora de qualquer duvida não precisaria de deus nem de nenhuma religião. (a necessidade do ‘deus absconditus’)
- a condição mínima para um livro ser bom: ultrapassar meu vocabulário.
- o ambicioso não se resigna à obscuridade a não ser depois de ter esgotado todas as possibilidades de amargura de que dispõe.
- quadro aí que vou pintar: uma mulher de costas e, no lugar das omoplatas, não asas de anjo, mas grandes orelhas.
- minhas inclinações estão mais para a loucura dos imperadores romanos do que para a sabedoria dos estóicos.
- o secreto regozijo que sentimos quando nos acreditamos abandonados pelos deuses.
- toda mulher faz papel de puta ou de governanta.
- desprezo todo mundo. mas aceito elogios.
- os que me consolam são como o médico que socorreu sêneca com o ventre rasgado. não tentem recolocar minhas tripas ou enforco-lhes com elas!
- Hesíodo, o camponês ressentido: origem da desprezível tradição que dignifica o trabalho. a fonte tanto das rev burguesas qto do marxismo.
- em suas horas vagas minha preguiça se ocupa em gritar madrigais renascentistas para a angústia, que, da sacada, lhe suspira com tédio.
- A Romênia é uma inveja do mediterrâneo.
- hoje numa estação do metrô 1 cego estendia sua mão havia em sua atitude algo que gelava que cortava a respiração sua cegueira nos contagiava
- o mais bonito dos grandes ambiciosos é que sempre acabam realizando o contrário do que pretendiam.
- A oposição fundamental de Shestov: Atenas X Jerusalém. Mas esqueceu de Paris, o único lugar onde é possível ser falso com sinceridade.
- todas as minhas idéias surgiram de coisas das quais deveria me envergonhar.
- a mobilidade típica do feminino vem de uma luta interior incessante: o desejo de ser penélope quando se é clitemnestra, ou o inverso.
- o refinamento é sinal de déficit de vitalidade. na arte, no amor, em tudo.
- quando ejaculo nos peitos de uma mulher me sinto um clown shakespeareano: meu sêmen, torrente de burla infinita, a man of infinite jest
- as revoluções e as guerras representam o espírito em marcha, quer dizer, o triunfo e não a degradação final do espírito.
- como macbeth tudo de que preciso é rezar. ao contrário de macbeth não posso dizer amém.
- as tetralogias gregas capturaram perfeitamente o ritmo do ser: 3 tragédias seguidas por uma sátira.
- não gosto dos livros escritos com frieza. mas os que parecem palpitar de calor me deixam com nojo.
- para encontrar a verdade: manter-se eqüidistante entre o entusiamo e a amargura.
- retirar-me para um cova. ser íntimo dos escorpiões. Fazer cigarros do seu veneno. Morrer fumando escorpiões na tumba do faraó.
- ser guarda de trânsito de necrópoles sempre foi a minha única vocação.
- que quem primeiro escreveu em prosa tenha sido heródoto, um historiador, constrange os ficcionistas até hoje.
- a mulher acumula as funções de puta e de governanta, e precisa de um homem que seja poeta no seu domus, mas cocheiro na alcova.
- ninguém é modesto com o próprio sofrimento.
- jacobinos, comuna de paris, maio de 68: desde Luís IX, o lambedor de leprosos, a França mantém uma relação abjeta com a pobreza.
- o q ha de belo no mundo é 1 fato do Direito, único desta ciência só de ficções: impossibilidade de afirmar a inocência p alem de qq duvida.
- os santos com φρόνησις. o absurdo que foi Luís IX: a alquimia do cetro e do cilício.
- o ruído mais intolerável é o que faz o ser humano quando fala. o meu artigo de 1938: “O Pecado da Voz Humana”.
- stalin, roosevelt e churchill vieram ao hotel onde moro depois da conferência de yalta. pediram-me desculpas por não terem me consultado.
- jacqueline kennedy me telefonou chorando depois do assassinato.
- felicidade e desejo de glória são incompatíveis. a felicidade, como diz aristóteles, pertence àqueles que se bastam a si mesmos.
- mais do que sofrer, a promoção e dramatização do próprio sofrimento é o caminho mais curto para a glória.
- o choro das mulheres como retórica da destruição. Lady Macbeth chora as punhaladas que, então, o marido transfere para Duncan.
- a minha dúvida perpétua entre ser hamlet e ser falstaff é mais autêntica do que a do próprio hamlet.
- assim como outros têm um pé na cova, eu estou sempre com um pé no paraíso.
- por que quando rezo junto a uma flor ela murcha?
- predileções de catástrofe: uma pena os naufrágios serem cada vez mais raros.
- peitos caídos como constantinoplas, beijos como o báltico, um cuzinho como o canal de suez: eu e história na rue saint-denis…
- e pensar que cheguei a roçar a santidade
- tenho 1 coragem negativa, valentia q dirigi contra mim mesmo. orientei minha vida p/ fora do sentido q havia me prescrito. anulei meu futuro
- alterno entre me sentir um tirano desempregado e um vagabundo remunerado.
- a volúpia do inacabado, o tédio da perfeição. quero chorar no meio da rua. tenho o demônio das lágrimas. o tédio da perfeição, a volúpia do
- hoje sonhei com a putrefação de papá e mamã. e acordei pensando na minha própria.
- Foi fora da Europa que a civilização ocidental mostrou sua verdadeira face pela primeira vez: a de Hernán Cortés em Tenochtitlan, 1521.
- ser o don quixote da alcova…
- o homossexualismo é a preguiça da mulher. o hetero- é a misoginia e, mesmo assim, querer aventurar-se na selva moral que é a mulher.
- quem mais entendeu a mulher foi quem mais sucumbiu a ela: strindberg, o grande bucetólogo do ocidente.
- Acabo de levantar a pálpebra esquerda de Deus.
- meu amigo A., sabotado pela imaginação, perseguido pela realidade.
- criatura essencialmente uivante, minhas idéias ladram: não explicam nada, só estalam, arrulham, trepidam, estouram e morrem.
- o berço da civilização é a índia. a grécia é seu leito de procusto.
- se observasse meu humor como tycho brahe fazia com o céu, a falta de regularidade me faria dar um tiro no zodíaco e, assim, morrer.
- Pascal: a razão tem desejos dos quais se envergonha.
- para que nasça um cético é necessário que mil crentes destruam a ordem.
- diante de cada insulto oscilamos entre a bofetada e o tiro na cara, e esta hesitação consagra nossa covardia.
- minha poluções noturnas são todas com santa teresa de ávila…
- desde os 13 anos acordo todos os dias como uma puta que envelheceu.
- o deus do jardim do éden é um deus rural. a posição da agricultura na história da civilização explica a rusticidade dos deuses.
- a religião me ensinou a ter nojo de umbigos.
- no desmaio feminino há uma expressão de voluptuosidade. nas mulheres o prazer é um desfalecimento, uma forma de desintegração.
- quartier latin: mulher senta ao meu lado e diz ser feminista. quer opinião. pergunto se isso a impede de dar a bunda, pq, se ñ, ñ tem prob.
- para ser escritor não é suficiente ter talento: é preciso também não esquecer nada. o escritor supremo é homem de rancores.
- a única vantagem da velhice é termos nos tornado hábeis em camuflar nossos vícios e vergonhas. daí a colostomia ser a tragédia suprema.
- “celulite não mede o caráter de ninguém” – preta gil
- gautier dizia do túmulo: um vestiário onde a alma depõe suas roupas ao sair do teatro. mas só está certa a parte do teatro.
- chateaubriand viu na lua se erguendo atrás do vértice da pirâmide de keóps o próprio farol da morte. eu veria o olho ciclópico de deus.
- meu único sonho de milionário é póstumo: 13 atrizes de Malhação segurando o meu esquife. Carpideiras gostosas de xoxortinho…
- gosto de observar a pátina do tempo nos túmulos em art noveau de miami beach.
- uma mosca morde o homem/disso vira uma ferida/da ferida o homem morre/a mosca tirou-lhe a vida <—— poema da minha faxineira
- Vieira sobre a diferença entre os vivos e os mortos: os vivos são pó que fala, os mortos são pó que jaz.(Ah, aquela campanha: gente que jaz)
- todo pensamento que não esconde uma aspereza me aborrece.
- a pederastia é marcial: aquiles uivando sobre o cadáver de pátroclo, napoleão junto ao corpo do marechal lannes em Erling.
- a morte: incompreensível e escandaloso perder o pensamento no nada.
- empédocles jogou-se na boca do etna para se provar imortal e o vulcão devolveu suas sandálias de bronze. uma ironia grosseira da natureza.
- bêbados os casais todos, noica com a mão na coxa da minha mulher. alguém propôs sexo grupal. mircea eliade corrigiu: “hierogamia coletiva!”
- confúcio, filósofo da burocracia da dinastia han, é, na aplicação de suas doutrinas à Administração, o que seria marx para a urss e a rpc.
- nagarjuna, bartleby de melville tornado iogue.
- conceitografia: ren, tao, dasein, tchan e créu.
- versão humilde da torre de babel: um zigurate de altura suficiente apenas para que Ele ouça a minha serenata. <— deus como julieta
- proust, como noé, sofria da síndrome da arca, que é não querer sair de lá depois da água ter baixado. a arca de proust era o colo da mãe.
- é comum q meninos mimados transformem o excesso de amor em ímpeto estético/liderança civilizatória: proust, sidarta gautama e dado dolabella
- qq posição política é uma impostura formada de humilhações e golpes anteriores sofridos pelo psiquismo. uma manifestação de inferioridade.
- o que me atrai no budismo: a glorificação do vazio (sunyata). ao mesmo tempo me afasta seu horror ao sofrimento (dukkha). sou um pós-buda.
- o que atrai no cristianismo: o amor ao sofrimento. e me afasta a adoração pelo além-mundo. sou um para-cristão.
- imagino meu nascimento na contingência das linhagens malditas das genealogias bíblicas, como a de Ló. Eu, um moabita moderno e balcânico.
- o que me atrai nas mulheres é a mesma coisa que me afasta e que eu não sei o que é mas que me faz persegui-las do mesmo jeito!
- tossir é minha única paixão.
- minha mãe cozinhava muito mal. só suas batatas cozidas eram elogiadas. eu sempre detestei batatas cozidas.
- por que quando me elogiam me sinto como uma moça a quem tivessem dito uma indecência? e por que não reajo, como a donzela, com a bofetada?