“ENTÃO É NATAL”

Chapman não deveria ter matado o homem, mas a obra. E hoje não teríamos Simone nos alto-falantes de supermercados e lojas de eletrodomésticos dizendo:

ASDASDLASDLASDASDLASDLASDASL

Algumas contas são perfeitas. Um, dois, três, quatro elementos (clássicos): fogo, terra, água e ar. Um cômputo do qual não se pode subtrair nem somar nada. Mas é a ocasião perfeita para o surgimento da insatisfação do idiota que, para se sentir astuto, pergunta: “E o quinto elemento?”. Nem grandes inteligências estão livres da insatisfação do idiota. Aristóteles, por exemplo.

Considerando insuficiente os quatros elementos da lista original de, acho, Empédocles, inventou um quinto, o éter, que, ao contrário dos outros quatro, seria eterno e incorruptível. E, pronto, fez-se um cristianismo inteiro, bêbado de éter.

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Os alunos de segundo grau, durante as aulas de química, certamente invejariam a parcimônia da tabela periódica dos gregos. Apenas quatro elementos e mais um, fictício, de bonificação.

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Cinco sentidos e, todavia, há muito mais do que apenas um filme com o Bruce Willis sobre o Sexto. O mesmo se aplica, aliás, aos quatro elementos. A quintessência é a Mila Jovovich. Pergunte ao Bruce Willis.

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São três as pessoas do discurso: uma que fala, uma para quem se fala, outra de quem se fala. A terceira pessoa é então a da maledicência e a da intriga. Cássio, o eu, fala para Brutus, você, a respeito dele, Júlio César. A história confirma: a terceira pessoa do discurso é sempre apunhalada. Não se entende a surpresa de Júlio César ao encontrar Brutus entre os conspiradores. A segunda pessoa é sempre o assassino. Et tu?… Claro que TU! Quem mais?

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“Mas e a quarta, hein?”, pergunta o idiota insatisfeito. Uma maneira idiota de responder-lhe: “A quarta pessoa do discurso é Deus, para quem ninguém fala, mas reza. E Ele nunca responde.”

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Ontem eu fui à praia. Mergulhei, peguei jacaré, pensei em Dorival Caymmi e em como o mar é estranho. Uma esfera para cada elemento: a litosfera para a terra, a atmo- para o ar, a pirosfera para o fogo e a hidrosfera, onde estava ontem. E, quando morrermos, iremos todos para a eterosfera, dizem os idiotas.

Mas é estranho ficar submerso no mar, o corpo cercado por mar, por oceano atlântico.

“Eu queria morar em um submarino, um U-boat, aqueles subs que os alemães tanto usaram na segunda guerra. Ser o capitão de um deles e tentar chegar à Itália passando pelo Estreito de Gibraltar, um gargalo infestado de destroyers britânicos.”

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Eu gosto de morar em apenas quatro dimensões. Na verdade, não. Acho muito complicado equilibrar-me entre as três do espaço enquanto administro a do tempo. A teoria das cordas, entretanto, aquela teoria, sabe?, que se pretende teoria de tudo, pois então, falaram-me que supõe 11 (onze) dimensões. Fico com labirintite só de pensar. Se essa teoria for verdadeira, nunca mais vou ficar em pé.

ABE NORTH´S MORAL CODE

“Of course I got one. A man can’t live without a moral code. Mine is that I’m against the burning of witches. Whenever they burn a witch I get all hot under the collar.”

Eu gosto dessa passagem. De alguma página no início de “Tender is the Night”. Mas, sei lá.

Deus, não permita que eu me torne tão cínico. E realmente não diria em vão o Seu nome se Eu, desculpe, eu, se eu acreditasse. De qualquer maneira, afaste de mim a Ironia.

A ironia é meu despachante. “Vá lá”, digo, “e diga isso”. Ela vai e diz. No ínterim, permaneço em casa. Nada que exista fora dela tem o mais remoto interesse para mim. Ou melhor, tem sim, pelas coisas do mundo meu interesse é remoto. E remotamente controlo tudo. Tenho a ironia, meu despachante, minha secretária, garoto de recados, office girl, capanga.

BUSINESS PLAN

Quero ficar rico escrevendo ensaios sobre Shakespeare. Para cada linha do Shake Shake Shake Boom, escreverei cinco páginas. E venderei os ensaios em um site, a U$ 9 .95 por página. Céus, pagarão quase cinquenta dólares por minha análise em cinco laudas de um clichezão shake shake boomspeareano como “frailty, thy name is woman”! Pagarão, pagarão, eu sei: as tábuas da litosfera rangem sob as passos pesados dos idiotas.

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SDAAAAAAAAAA

Não gosto de conjunções adversativas. Menos ainda das que vêm depois de uma sentença adversa, como em:

“Você foi muito mal, porém…”

Porque o que virá na sequência será uma consolação que me deixará ainda mais irritado do que a notícia ruim que iniciou o período.

ALGUNS CÉREBROS BIPAM

É, bipam, beep beep

no preciso momento em que a vida do portador atinge o píncaro. Então, ele sabe que jamais será tão ou mais feliz quanto naquele instante. Chamam isto de eudemonômetro. F. Scott Fitzgerald tinha um.

Havia acabado de publicar This Side of Paradise, de casar com com Zelda e estava feliz. Neste período feliz, ele ia, feliz, dentro de um táxi para algum lugar que não importa. Olhou pela janela e viu arranha-céus passando contra um céu malva.

Entre parêntesis, acho que só escritores vêem céus malvas. Quer dizer, pintores também, mas ao menos estes não escrevem “céu malva” (“a mauve and rosy sky”)

Bom, enfim, continuando, foi quando o dispositivo alarmou e o motorista de táxi ouviu soluços convulsos e espasmos lacrimosos vindos do banco de trás. As pessoas deveriam ter um AVC e morrer nestes momentos. Mas não. Pois ele mesmo escreveu que

riding in a taxi one afternoon between very tall buildings under a mauve and rosy sky; I began to bawl because I had everything I wanted and knew I would never be so happy again.

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A verdade é que píncaros são superestimados. Declínios também valem a pena:
ladeira abaixo, sentindo o vento contra o rosto.

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Mulheres com o nome “Glória” não entendem o sentido de “píncaro” e, quando o alcançam, lançam-se lá de cima.

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“O Pico da Heroína é um modo de chegar ao alto do K-2 de teleférico. Só que, óbvio, não existe teleférico para o K-2.”

(Lino Lacedelli, montanhista italiano)

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Enquanto meu irmão e seus amigos escalavam o K-2, eu ficava em Skardu (2500m), cidade que é a porta de entrada para os melhores picos do norte do Paquistão. Lá, com uns adolescentes nativos, ia para o cemitério da cidade. Com ancinhos cavávamos superficialmente as sepulturas. Logo escorpiões começavam a brotar.

Dos escorpiões esmagados saía um suquinho cor-de-malva. Então, com ele untávamos folhas de arkubo que, depois de enroladas e acesas, fumávamos. “Cada um com o seu K-2”, dizia, depois de uma tragada, enquanto olhava para aqueles picos de marshmallow vermelho. E cantava Cole Porter pensando no meu irmão

I’m a worthless check, a total wreck, a flop,
But if Baby, I’m the bottom,
You’re the top!

“Eu gosto de um sopé, ele de um pico”, pensava, resignado.

(Das memórias de Luigi Lacedelli)

BEERIUBERATIUTEEREE

shapararobirirum babaroropiribirirom o babarope babbapeeriupe duri duraaa dluri dlurá duriritubi dorere dorere durililaaa It´s the A Train beeebabaroopi iiiiiiiibararamrambabarambibirum

Ella Fitz scat-singing beeereereee bebebebrerererelçkdjaslkdjaslkdasjlkzjvzx.,mczx.,cmzx.,cmzx.
,cmzxçlaksdçlaskdçlcc,mzx;.c,zx;.cz,c;z.,
shapararabindu pararabindoo ioooo ioooo teebirou teebeerre It´s the “A” Train parabombeem you better hurry, get on board, take the “A” Train.

you must take the a train if you wanna go to harlem

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Cof cof. Sei lá, queria ser tão feliz quanto Ella scat-singing.

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Aliás, agora eu sei, agora entendo: Punnegans Wake é scat-writing.

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Impressionante como ela com dois éles se diverte enquanto escateia. Um bebê feliz. Lindo.

NOTÍCIAS

O mundo é feito de coisas que acontecem. Por exemplo, três irmãs dinamarquesas aconteceram ao meu lado, supermercado Barateiro, enquanto pegava uma daquelas cestinhas verdes. O que sei da língua é o suficiente para reconhecê-la, talvez por ter visto muitos filmes do Lars von Trier. Entretanto, nem para perguntar “E o Kierkegaard?” é o bastante. Como soube que eram irmãs? Porque conversavam com duas peçonhas velhas o suficiente para tornar razoável a hipótese da progênie.

Na praia de Ipanema aconteceu uma capivara. Foi encurralada por bombeiros de sunga e hoje é primeira página de O Globo.

O governo chinês resolveu erguer em alguma praça de Pequim o Monumento à Cobaia Desconhecida. Homenagem a camundongos mortos durante as pesquisas sobre a gripe asiática.

Aqui em casa aconteceu um vento que espalhou do cinzeiro as cinzas sobre a mesa e no interior do copo de coca-cola.

Na Rússia, tempos atrás, Nekrassov concentrou-se olhando para o teto e fez acontecer a frase idiota:

O papel usado para embrulhar o pão que dás ao faminto vale mais do que aquele em que Goethe escreveu o Fausto.

Idiota porque bastaria ter dado o pão nu, sem qualquer invólucro celulótico, para evitar a comparação. O papel não é nutritivo.

E Kolianov, irritado, retrucou:

O erudito papel usado por Goethe para limpar a própria bunda cheia de platelmintos vale mais do que a vida de qualquer analfaminto.

Ninguém se lembra da frase de Kolianov, é como se não tivesse acontecido. Não sei por quê. A de Nekrassov, entretanto, é incessante e, geração após geração, repetida legionariamente.

QSDLASDASDLASDASDLAS

Devo a minha tristeza à faxineira que trabalhava na casa de mamãe quando eu era criança. Amargurada, azeda, velha, acre, ácida, água sanitária, veja multi-uso, vassoura piaçaba, cara ocre, olhar túrgido, varria, varria e resmungava

tudo é pó

E ela dizia isto literalmente. Pó, partículas de sujeira, poeira mesmo, sem aludir à desintegração post-mortem do seu corpo. Pessimistas fajutos é que se preocupam com o pó futuro.

ASLDASLDASDLASDALS

Os momentários estão comentaneamente fora do ar. Mas o último, antes da débâcle, foi este:

O problema do atraso é o egoísmo de quem supõe que os outros devam esperar. Mais que egoísmo: maldade. Schopenhauerianamente falando, claro.

Postado por: Pedro, pontualmente em dezembro 7, 2004 04:13 PM

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Com atraso, a minha resposta:

Pedro, amanhã, sete da manhã, no obelisco da praça da matriz.